24/01/13 - 11h54
David Cameron
anuncia a promessa de referendo sobre a UE nesta quarta-feira Matt Dunham / AP
LONDRES - Em resposta ao anúncio do premier
britânico, David Cameron, que nesta quarta-feira prometeu a realização de um
referendo sobre a saída do país da União Europeia em 2017, caso fosse reeleito,
o presidente francês, François Hollande afirmou que o bloco não deve se
“diminuir” para permitir que o país permaneça como membro. Além de propor o
referendo, Cameron exigiu uma reforma radical da UE, que incluiriam negociações
com os sócios da União Europeia para aumentar a autonomia dos Estados, em
especial em questões políticas, e para consolidar o mercado comum.
- O que eu vou dizer, em nome da França e como
europeu, é que não é possível negociar como a Europa para realizar este
referendo - disse Hollande. - A Europa deve ser tomada como ela é. Não podemos
reduzi-la ou diminuí-la para que o Reino Unido permaneça.
Mais cedo, Cameron definiu princípios para organizar
as mudanças, entre eles a competitividade, pois “o coração da UE tem que ser,
como é agora, o mercado único”, e a flexibilidade, porque o “bloco deve agir
com rapidez e flexibilidade de uma rede de Estado, e não com o pesado bloco
rígido”.
- É hora de o povo britânico falar. É hora de
resolvermos essa questão sobre o Reino Unido e a Europa - disse, acrescentando
que seu Partido Conservador deve fazer campanha para a eleição de 2015
prometendo renegociar a participação britânica na UE. - Quando tivermos
negociado esse novo acordo, vamos dar ao povo britânico um referendo com uma
escolha muito simples, dentro ou fora, sobre permanecer na União Europeia com
base nesses novos termos, ou sair de uma vez.
Críticos dizem que, até o referendo, o país pode
mergulhar num perigoso e nocivo limbo, ficando à deriva ou mesmo sendo expulso
da UE. A promessa de Cameron gerou uma onda de críticas de outros membros do
bloco, incluindo França e Alemanha, e de seu principal aliado político, os
Estados Unidos. Em coletiva de imprensa, o porta-voz da Casa Branca, Jay
Carney, disse nesta quarta-feira que os EUA acreditam que o país é mais forte
como parte da União Europeia - e que o bloco é mais forte com a participação do
Reino Unido.
Na Europa, a chanceler alemã, Angela Merkel, foi
mais contida, defendendo uma negociação justa com os britânicos. Já o francês
Laurent Fabius disse que estenderia um tapete vermelho caso o Reino Unido
queira deixar o grupo
- Se o Reino Unido quiser sair da União Europeia,
nós vamos estender o tapete vermelho para vocês - disse, em tom de ironia,
Laurent Fabius, citando uma conversa que teve com um empresário britânico.
- A Alemanha e eu, pessoalmente, queremos que o
Reino Unido seja uma parte importante e membro ativo da União Europeia. Nós
estamos preparados para dialogar sobre os desejos dos britânicos, mas temos que
ter sempre em mente que outros países também têm suas necessidades. Temos que
atingir um compromisso justo. Nós vamos negociar intensamente com o Reino Unido
sobre suas ideias individuais, mas isso deve durar meses - disse.
A promessa de Cameron consiste em realizar uma
consulta pública, até o fim de 2017, sobre a permanência do país na UE, caso
seja reeleito em 2015. O governo britânico já estava negociando uma profunda
mudança nas relações do país com o bloco, que inclui a devolução de diversas
políticas, que atualmente pertencem à UE, ao Parlamento britânico. Se o Reino
Unido deixar o grupo, será uma “viagem sem volta”, afirma Cameron.
Seria a segunda votação desse tipo na história
britânica. Em 1975, o eleitorado decidiu por ampla margem permanecer na então
Comunidade Econômica Europeia, à qual o país havia aderido dois anos antes. As
pesquisas mais recentes mostram um eleitorado dividido a respeito do assunto.
A promessa de Cameron está condicionada a muitas
incertezas. Ele precisaria reverter a desvantagem eleitoral para 2015,
convencer os outros 26 países da UE a dar um novo papel à ao Reino Unido, além
de torcer para que esses países convençam seus eleitores a aprovar essas
mudanças.
Críticas internas
Após o anúncio de Cameron, o líder da oposição
trabalhista, Ed Miliband, acusou o premier de estar levando o país até um
“precipício econômico” e de estar construindo o caminho para a saída da UE. Até
o vice-primeiro-ministro britânico e liberal democrata, Nick Clegg, criticou a
decisão do colega de coalizão. Segundo ele, o referendo “criará incerteza e
terá um efeito negativo sobre o crescimento e a criação de empregos” no país.
De acordo com o jornal “El Mundo”, um grupo de 25
conservadores, entre eles Michael Ray Dibdin Heseltine - um dos responsáveis
pela queda de Margaret Thatcher - escreveram uma carta ao premier pedindo “uma
visão mais positiva do Reino Unido na Europa” e que a ênfase de seu discurso
não seja a consulta popular para sair da UE. Por outro lado, conservadores
radicais, como o ministro da Defesa britânico, Liam Fox, elogiaram a decisão de
Cameron. Fox disse, em coletiva, que “escutou, por fim, palavras que estava
esperando há muito tempo”.
Em parte de seu discurso, Cameron se aproximou tanto
dos chamados “eurocéticos” que foi comparado ao pronunciamento de Margaret
Thatcher em Bruges (1988). Definindo o Reino Unido como uma ilha, ele disse que
seu país entrou na UE com uma “mentalidade mais prática do que emocional”.
- Temos o caráter de uma ilha: independentes,
diretos e apaixonados na hora de defender a nossa soberania. Entramos na União
Europeia com uma mentalidade mais prática do que emocional.
Para amenizar suas declarações, Cameron lembrou da
importância que a integração de países europeus tem desempenhado em prol da paz
e da estabilidade no continente, depois de duas guerras mundiais no século XX.
No entanto, ele rapidamente acrescentou que o objetivo da UE atualmente “é
alcançar a paz, mas para assegurar a prosperidade”, exortando o bloco a aceitar
as mudanças que irão ser propostas pelo Reino Unido.
Disponível em:
http://oglobo.globo.com/mundo/cameron-promete-referendo-sobre-saida-do-reino-unido-da-ue-7374408#ixzz2Q0ihxTjV
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É intergovernamentalismo, pois o Reino
Unido está agindo de acordo com seus interesses individuais. Se sentindo
prejudicado pela integração o Reino Unido deseja se retirar do bloco, já que de
acordo com a teoria a integração teria o objetivo de maximizar os lucros e
diminuição dos custos de transação. Para o Reino Unido então essa vantagem da
integração não ocorre mais.
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