A
integração é considerada uma anomalia para os realistas. Entre as
características mias importantes do realismo, temos as configurações externas
de poder no sistema internacional e as dinâmicas da competição política do poder.
Para os realistas, a integração regional tem relação direta com as alianças
entre os países. É importante entender que para os realistas o tamanho a
influência que o bloco integrado vai exercer no sistema internacional é o que
mais importa, pois a busca pela maximização do poder é o principal objetivo do
Estado.
Para
os neorealistas, a hegemonia norte-americana fora um fator determinante para a
necessidade de criação dos regionalismos. Para estes, os países europeus se
integraram a partir da pressão dos EUA e por fins de segurança transatlântica.
A interdependência na área de segurança é um dos principais fundamentos que
fazem os Estados se integrarem.
Outra
questão que favorecem as integrações é a concorrência econômica entre os
Estados, pois estes se unem para tentarem diminuir o grande privilégio
econômico que as potências possuem em suas relações comerciais. No caso
europeu, estes se unem a fim de contrabalancear com o poder econômico dos EUA.
Hurrel
resume bem o pensamento realista relativo aos objetivos econômicos na
integração regional ao concluir que:
“os
objetivos econômicos da integração regional não derivam da busca do bem estar,
mas da estreita relação que existe entre riqueza econômica e poder político e
da preocupação ‘inevitável’ dos Estados com lucros e perdas”. (HURRELL, p. 32)
A
partir dos estudos de Hurrel e Mattli, para as teorias de cunho realistas, é
importante entender como se dá a configuração de poder nas relações
internacionais, sendo que a integração pode ser uma resposta aos desafios que a
atualidade traz para o sistema internacional. Segundo esta visão é necessário
que os Estados se unam para haver um maior equilíbrio de poder, principalmente
para contrapor a hegemonia. Ou seja, o regionalismo vem como resposta à
hegemonia a fim dos Estados relativamente fracos terem maior poder de barganha
amenizando o livre exercício do poder hegemônico na criação das instituições
regionais ou até mesmo uma possibilidade destes Estados se unirem à hegemonia
para garantirem sua existência. Portanto, os Estados buscarão aquilo que
maximize seu poder e os ganhos.
O regionalismo cresce a partir da década
de 90, no momento em que a interdependência econômica e consequentemente
política e social se dá entre os países de maneira mais intensa. Segundo
Hurrel, o regionalismo vem com quatro principais características: regionalismo
norte-sul, como por exemplo o NAFTA; vários níveis de institucionalização; um
caráter multidimensional (econômico e político); além do aumento da consciência
regional que tem criado uma noção de identidade entre os países. Porém
entende-se também que o fenômeno estudado tem se dado atualmente mais por
motivos específicos do que por coesão econômica, social ou organizacional.
Hurrel
acrescenta que o termo regionalismo é usado para vários fenômenos distintos,
são eles: Regionalização: se dá de
forma que haja uma maior integração das sociedades em uma região por meio do
aumento de fluxos econômicos e consequentemente de pessoas; Consciência e Identidade Regionais:
percepção de “comunidade” em termos de cultura, história, tradições religiosas
em comum. Estas podem se dar também unidas em contraposição a uma ameaça
externa ou hegemonia; Cooperação Regional entre Estados: neste
tipo de fenômeno, há uma construção de acordos ou de regimes interestatais ou
intergovernamentais. Os Estados se
fortalecem ao passo que trocam determinado grau de liberdade pela oportunidade
de agirem multilateralmente tendo maior influência e podendo gerir problemas em
comum de maneira mais eficiente; Integração
Econômica Regional Promovida pelo Estado: iniciam a integração com a
eliminação de barreiras comerciais, sendo que os estágios poder se dar do
seguinte modo: zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum e união
econômica; Coesão regional:
possibilidade de que em algum momento a combinação dos quatro fenômenos anteriores
resulte em uma unidade regional coesa e consolidada. A Coesão Regional e a Consciência e Identidade
Regionais são difíceis de ser explicadas pelo realismo, já que tratam de
aspectos sociais de construção de identidades, perdendo o foco principal dos
aspectos econômicos e segurança.
Se
traçarmos um paralelo das concepções regionalistas com as fases de integração
propostas por Bela Balassa podemos entender que o realismo tem dificuldades de
explicar por exemplo a última fase de integração, a União Econômica. Esta
dificuldade acontece porque nesta fase há uma padronização das políticas macroeconômicas
e instituições supranacionais de caráter regulatório e homogeneizador de políticas o que implica na interferência dos
outros países e das instituições na soberania Estatal.
As
primeiras fases da integração que é a Zona de Livre Comércio e o a União
Aduaneira são mais fáceis de identificar a aceitação realista, pois, os Estados
se unem de forma a melhorar e intensificar as trocas comerciais entre eles,
fazendo com que o outro mercado tenha acesso aos seus produtos, o que aumenta
sua exportação e desenvolve a indústria nacional e o inverso também acontece
com o outro país, ou seja, benefício para ambos lados.
A
União Aduaneira com a implementação de uma Tarifa Externa Comum faz com que
haja um fortalecimento do bloco na configuração econômica externa, já que
conseguem benefícios econômicos que provavelmente não conseguiriam sozinhos,
podendo ter uma melhor relação com outros países ou garantindo que internamente
no bloco, haverá maior garantia que seu produto será comercializado.
O
Mercado Comum assemelhasse a União Econômica ao garantir s livre circulação de
bens e serviços, o que necessariamente faz com que haja políticas regulatórias
desses processos o que pode acarretar em maiores concessões de soberania às
instituições, apesar de não serem tão fortes como na última fase.
Desta
forma, vemos que para o realismo, a integração se justifica por fins econômicos
e de segurança, garantindo a redução de ameaças e perdas comerciais no âmbito
externo, além de maximizar o poder dos Estados dando uma maior oportunidade de
aumentar os lucros e contrabalanceando o poder com a hegemonia existente no
cenário externo.
Segue
tabela com os principais pressupostos realistas para a integração regional:
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Pressupostos da Teoria Realista
|
Relação
entre os pressupostos e o debate sobre integração regional
|
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O
Estado é egoísta e busca a maximização de seu poder e dos ganhos
|
Os Estados irão se unir caso
tenham mais ganhos juntos do que separados. Juntos tem possibilidade de
barganhar e conseguir maior poder de forma que o sistema fique mais
equilibrado com o poderio da hegemonia. Caso for mais vantajoso, une-se à
hegemonia.
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Sistema
Internacional Anárquico
|
Não existe nenhuma instituição
acima dos Estados. Apesar da existência dos blocos regionais, estes não
interferem na soberania dos países de modo que permanecem nele até o momento
que ainda é interessante para atender seus objetivos de maximização de poder.
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Redução
das ameaças externas
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Integração como resposta
política ao poder e ameaça hegemônica.
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Aumento
dos lucros econômicos
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A integração é interessante
para o Estado se esta faz com que seus lucros aumentem por meio dos acordos
econômicos.
|
HURRELL, Andrew. O ressurgimento do
Regionalismo na Política Mundial. Contexto Internacional, Rio de Janeiro,
vol.17,n.1, jan/jun 95,p.23-59 (pdf);
MATTLI, Walter. The logic of regional
integration: Europe and beyond. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
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